Falar de você sempre foi difícil pra mim. Talvez pela falta de tempo, pela falta de colo, pela falta de infância, pela distância tão calada entre nós.
Apenas hoje a memória insiste em lembrar que houve a ternura, a preocupação, a emoção e o partilhar...Hoje o coração se parte pelos anos passados, quando você comprava aquele presente de Natal que eu tanto queria, aqueles lápis de cor tão lindos que me faziam não querer apontá-los só para não acabar, pelas meias de renda nos sapatos de boneca envernizados para os dias de missa.
Hoje o coração se abre para trazer à tona nossos risos em meio às madrugadas depois das noites de sábado na Estudantina, depois daquela sopa de legumes em pedaços que não falhava para "forrar o estômago" antes de dormir.
Hoje o coração volta no tempo para lembrar seu quarto na Guaicurús, a bicama em mogno escuro, suas bolsas de couro que você mesma fazia, seu cabelo curto e seus olhos claros.
Para mim, você era a que criava moda e a vestia, sempre se fazendo de diferente. E era. Diferente quando me levava nas sessões de cinema para ver o último "Tom e Jerry" e depois batíamos palmas junto com o pacote de pipocas e elas voavam longe...
Nunca vi você chorar. Não me lembro. Você era forte ou se fazia de...Achava engraçado quando você mesma fazia suas unhas e como tinha tantos discos de vinil da Elis Regina.
Tudo isso ficou aqui, bem dentro de meu coração. As lembranças vão deixá-la viva pra sempre em minha memória. A dor passou, minha irmã...você se foi...agora ela já não te pertence mais...
Só pertence a nós...
Obrigada por tudo que fez por mim...